No início de 2018, a arquiteta e palestrante da Bartlett School of Architecture, Neba Sere, guiou um painel de discussão na Architecture Foundation de Londres, onde ela era uma das seis jovens curadoras. O tema: começos. Como abordá-los, avançar e transformá-los em algo duradouro. Seis anos depois, ela olha para o evento como o início de sua própria jornada: foi onde conheceu Selasi Setufe e criou o grupo do WhatsApp que se transformaria na Black Females in Architecture (BFA), uma rede global com 500 pessoas dirigida por elas e pela arquiteta Akua Danso.
A BFA surgiu como resposta à necessidade de visibilidade das mulheres negras e pessoas que se identificam como mulheres na arquitetura e no ambiente construído. No ano passado, o grupo comemorou seu quinto aniversário com a exibição de um curta-metragem e um painel de discussão na Bienal de Arquitetura de Veneza. Agora, após estabelecer as bases de disseminação de informações sobre a falta de diversidade e igualdade na indústria e aumentar seus números, a BFA está se preparando para impulsionar mudanças reais.
"Sabe, nós chamamos a atenção. Nos unimos. Mas o verdadeiro objetivo de nossa existência é realmente projetar. Queremos ser capazes de apoiar nossa comunidade a criar projetos para que talvez daqui a dez anos possamos dizer: 'Olha, este edifício foi projetado e construído por uma mulher negra ou uma comunidade de mulheres negras", explica Sere em uma recente entrevista. A falta distinta de tais estruturas foi parte da razão pela qual as co-fundadoras da BFA sabiam que tinham de agir. O que começou como um grupo do WhatsApp para manter contato e descobrir mais sobre as experiências umas das outras como estudantes e profissionais minoritárias rapidamente atingiu questões maiores sobre autoria feminina e o cânone arquitetônico ocidental.
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Kampala on a Global Stage: Doreen Adengo’s Cross-Disciplinary LegacyA educação foi o primeiro ponto de contato natural para o grupo, e as estudantes foram as primeiras apoiadoras. "Grupos de estudantes entraram em contato conosco dizendo: 'Ah, é tão bom que vocês estão por aí. Vocês querem vir falar na nossa universidade?", explica Sere. "'Nós não temos mulheres liderando, e definitivamente não temos mulheres negras, então adoraríamos ouvir sua perspectiva.' Depois disso, começamos a dar palestras sobre diversidade na arquitetura e começamos do zero porque também precisávamos fazer pesquisas. Começamos a analisar estatísticas reais e números sobre como a representação diminui."
Especialmente no topo da disciplina, as estatísticas são sombrias. Nos Estados Unidos, menos de 25% dos quase 120.000 arquitetos licenciados são mulheres, e nem mesmo meio por cento são mulheres negras. A recente posse de Kimberly Dowdell como presidente da AIA representa a primeira vez em 165 anos de história da organização que uma mulher negra ocupou o cargo. Do outro lado do Atlântico, a situação não é muito melhor, com a profissão de arquiteto no Reino Unido sendo dominada por 83% de brancos e 78% de homens. Ao criar oportunidades para as mulheres negras terem uma resposta ativa no desenho de nossas cidades, a BFA está buscando desafiar esse status quo.
O grupo também se concentra em todos os aspectos da indústria, e membras de todas as áreas do ambiente construído e da disciplina de arquitetura são bem-vindas. Essa abordagem interdisciplinar e inclusiva foi intrínseca a BFA desde o início, em parte devido aos interesses específicos das codiretoras (Sere se concentra na decolonização da cidade, Setufe está envolvida em modos alternativos da prática, e Danso é especializada em habitação residencial em larga escala) e a um conselho consultivo inicial composto por profissionais como Lesley Lokko, Ola Uduku ou Danei Cesario. A sabedoria intergeracional e a promoção de formas atípicas de pensamento continuam sendo fundamentos para o coletivo em seus workshops, palestras e encontros.
Como indústria, estamos nos esforçando para sermos social e ambientalmente sustentáveis. Penso que poderíamos resolver estas questões se ouvíssemos as vozes sub-representadas, especialmente as pessoas em comunidades oprimidas. Estaríamos trabalhando para um mundo muito melhor e mais justo. Penso também que estaríamos desenvolvendo formas mais inovadoras para prática, educação e até construção. –– Neba Sere
A sede da BFA está localizada no Africa Centre no sul de Londres mas, em parte devido ao crescimento global do movimento Black Lives Matter em 2020, seu alcance agora se estende muito além da comunidade local. "No começo, nossa existência foi muito questionada. As pessoas não entendiam por que precisávamos estar aqui. Nossa mera presença parecia um ataque à indústria", explica Sere. "Mas quando chegou 2020, houve uma compreensão mais ampla de que existem questões maiores que afetam as pessoas negras. Existem questões maiores que afetam comunidades minoritárias no mundo, que ficaram mais claras com o que aconteceu com George Floyd."
Enfrentar essas questões complexas e remodelar um ambiente construído centrado no padrão ocidental é o objetivo explícito da BFA para o futuro. Algumas técnicas para alcançar isso serão construir conexões a partir da Bienal de Arquitetura de Veneza de 2023 e aumentar as reuniões presenciais e a colaboração entre os membros. "Agora que estabelecemos as bases, estamos buscando colaborações. Estamos buscando momentos em que podemos estar envolvidas em uma exposição de arte ou projetando um layout ou um planejamento urbano. Pode ser algo pequeno ou grande. Mas acho que para provar o ponto de que nossas vozes são importantes na conversa sobre o ambiente construído, precisamos ser capazes de fazer o trabalho, não apenas falar sobre ele. Esse será nosso foco pelos próximos cinco anos."